Recentemente comecei a ler A Arte de Amar do Christian Dunker e foi logo nas primeiras páginas que levei aquele soco na boca do estômago que me fez fechar o livro para digerir. Não exatamente com essas palavras, mas naquelas palavras do autor encontrei a reflexão de que a busca por amor também está relacionada com nosso desejo de ser insubstituível.
Bateu forte em mim essa ideia, pois me vi diante de uma conclusão que, embora já conhecida, sempre me intriga e me deixa pensativa: no fim das contas, o amor fala muito mais sobre nós mesmos do que sobre o outro. Para quem entende um pouco de psicanálise é bem óbvio, mas é isso: nós enxergamos o outro com base em nossas projeções. E sim, é desconfortável pensar que as relações não são construídas apenas por meio do quanto somos pessoas apaixonantes pela aparência, gosto musical e senso de humor.
E indo mais além, seguindo as reflexões que me ocuparam por dias, pode ser que em algum nível, amar seja uma esperança de que o outro valide nossa existência. A vontade de que alguém pegue a nossa mão e diga “olha, é possível gostar de quem você é”. E até aí tudo bem, o problema é que isso geralmente não basta e as pessoas criam a necessidade de se sentirem necessárias, únicas e insubstituíveis.
A má notícia é que embora únicos, na maioria das vezes não somos necessários, nem insubstituíveis. A boa notícia é que isso acaba sendo uma ótima notícia. Afinal, querer ficar, apenas por ficar e gostar da companhia pode ser muito mais verdadeiro e sincero do que querer ficar para garantir o distanciamento de qualquer insegurança.
Existem umas 8 bilhões de pessoas no mundo, é óbvio que entre elas estão pessoas tão legais e especiais como a gente. Nesse universo, todos somos substituíveis e talvez, seja exatamente isso que pode tornar nossas conexões mais bonitas. Escolher ficar porque algo no encontro ressoa, mesmo diante da impermanência.